id="BLOGGER_PHOTO_ID_5351821357396566514" />A cada ano, as Nações Unidas escolhem um tema para marcar o Dia Internacional contra o Abuso de Drogas, que é comemorado em 26 de junho. O objetivo é fazer com que a sociedade se envolva no debate sobre a questão das drogas. Desde a criação da data, países de todo o mundo têm se esforçado em tentar frear a produção, a venda e o consumo de drogas, lícitas e ilícitas. Pressões sociais e legais estão conseguindo limitar o consumo de drogas ilícitas a 5% da população mundial acima de 15 anos de idade.
Apesar dos esforços no mesmo sentido, no Brasil ainda há carência de serviços públicos especializados no tratamento da dependência química. Em Minas, só duas instituições no gênero que atendem pelo SUS. Uma delas é o Centro Mineiro de Toxicomania (CMT), da Rede Fhemig, em Belo Horizonte, que tem desempenhado importante papel na recuperação de viciados e na redução dos danos que os vícios provocam.
Atualmente, as nações já estão cientes dos danos causados pelas drogas legais à saúde e à produtividade e de sua relação com o aumento da violência. Por isso, ações vigorosas estão sendo executadas com o objetivo de ajudar usuários a largar o hábito ou, pelo menos, reduzir os riscos desse consumo, como é o caso do Brasil.
O primeiro Levantamento Domiciliar Sobre o Uso de Drogas no Brasil, realizado no ano passado, revelou que 11,2% dos brasileiros que vivem nas 107 maiores cidades do país são dependentes de álcool (5,2 milhões de pessoas), 9% são dependentes de tabaco (4,2 milhões de pessoas) e 1%, de maconha (451 mil). O estudo revelou ainda, que 4% dessa população já se submeteu a algum tratamento para se livrar da dependência de drogas.
A pesquisa foi realizada pela Secretaria Nacional Antidrogas do Ministério da Justiça, tendo sido aplicada nas cidades com população superior a 200 mil habitantes, o que totalizou aproximadamente 47 milhões de pessoas (41,3%). Foram ouvidas 8.589 pessoas entre outubro e dezembro de 2001.
Um dado que preocupa especialistas que trabalham na recuperação de viciados em drogas, álcool e tabaco é que o levantamento mostrou que 61% dos entrevistados (28,6 milhões de pessoas) acham fácil conseguir maconha. Apesar da maioria considerar a droga acessível, apenas 4% afirmaram que já foram abordados por alguém que oferecia a droga.
No caso da cocaína, 45,8% responderam ser muito fácil encontrá-la.
Álcool e outras drogas
O levantamento realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas mostrou que o álcool é a droga mais consumida entre as pessoas que admitiram ter feito alguma vez uso de alguma substância lícita ou ilícita: 68,7% .
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo global de tabaco e álcool na população acima de 15 anos é estimado, em 30% e 50%, respectivamente. O tabaco é a segunda droga mais experimentada pelo menos uma única vez pelos brasileiros e é consumida por 41% dos pesquisados.
Um dado é positivo. A população conhece ou tem noção dos danos causados pelo uso de narcóticos - 94,5% acreditam que há risco grave no consumo diário de álcool, maconha (95,8%) e crack ou cocaína (98,8%). Alguns, mesmo assim, escolhem usá-las, sejam elas legais ou não.
Modelo
Em Minas, o tratamento para recuperação de viciados funciona de forma integrada. A Rede Fhemig mantém 22 unidades que, em algum momento, estará presente na vida deste paciente, seja ele vítima de agressão ou acidente envolvendo drogas (HPS), na recuperação do vício (Centro Mineiro de Toxicomania/Centro Psicopedagógico), na assistência psiquiatra no momento de crise (Galba Veloso/Raul Soares/Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena), seja tratando das seqüelas (Galba Ortopédico).
O paciente que chega ao CMT passa inicialmente por avaliação no acolhimento. Segundo a diretora da unidade, Ana Regina Machado, é preciso saber qual a relação deste indivíduo com a droga (saber se o uso já é prejudicial à sua saúde, por exemplo). Esta entrevista envolve também as pessoas que se relacionam com o paciente, como seus familiares. Dependendo desta avaliação o paciente inicia imediatamente seu tratamento ou entra para a fila de espera.
Este primeiro contato do Centro com o paciente é feito por um psiquiatra e um clínico geral que avaliam as condições gerais do paciente. O estado em que ele chega ao Centro determinará se será encaminhado imediatamente para o leito desintoxicação ou será incluído em outros serviços ali desenvolvidos. Isso normalmente ocorre quando o paciente chega à unidade com crise de abstinência, deprimido ou irritado. Ou pode ser encaminhado para a permanência/dia ou agendado com um terapeuta.
Os casos mais graves são conduzidos para os hospitais psiquiátricos ou encaminhados ao Cersam (da Prefeitura de Belo Horizonte). Ana Regina esclarece que são considerados casos mais graves aqueles em que o paciente apresenta risco para si e sua família. Nesta situação, eles são, geralmente, encaminhados aos hospitais psiquiátricos Galba Veloso ou Instituto Raul Soares, ambos da rede Fhemig. Os casos considerados mais leves são reconduzidos aos Centros de Saúde para tratamento psicológico.
Os que são absorvidos pela unidade, dependendo do tratamento, chegam pela manhã para seu trabalho de recuperação, tomam o desjejum almoçam e fazem ali o lanche da tarde. Lá eles podem freqüentar, se indicado, o salão de atividades e oficinas.
Ao contrário do que muita gente imagina, Ana Regina esclarece que o tratamento não tem período determinado para terminar e que para alguns pacientes, a alta não quer dizer cura do vício. Para estes a saída é a proposta ampliada de redução de danos, prevista pelo Ministério da Saúde, com o uso menos danoso da droga.
Dificuldades
A diretora clínica do Hospital Galba Veloso, Maria Eugênia, defende um maior detalhamento no preenchimento de fichas de recepção de pacientes como forma de melhor diagnóstico dos dependentes. Segundo ela, a não observância de alguns fatos determina a subnotificação, em muitos casos, do diagnóstico de causa primária em muitos acidentes, como de carros e tentativas de suicídio. Se o dependente é imediatamente identificado e encaminhado a um serviço sua chance de recuperação será ampliada. Para Maria Eugênia, é preciso incluir o uso de álcool e droga nas perguntas feitas pelos médicos numa primeira consulta.
A falta deste encaminhamento causa a não seqüência de tratamento. Maria Eugênia lembra que um alcoólatra, por exemplo, quando internado porque quebrou o braço numa briga vai ter o braço tratado mas não a sua dependência.
Para se ter uma idéia, cerca de 35% dos atendimentos em leitos crise hoje, no Galba Veloso são em conseqüência do uso abusivo do álcool por homens. As mulheres ocupam 10% dos leitos pelo mesmo motivo. Quem entra no leito crise permanece no serviço de 24 a 72 horas a espera do encaminhamento para tratamento em postos de saúde ou hospitais. A reincidência dos pacientes neste leito crise é de 20%
Já o Hospital Galba Ortopédico, o maior do Estado em cirurgias de fraturas, e considerado referência em Minas Gerais, recebe os pacientes com fraturas ortopédicas encaminhados pelo Hospital João XXIII, ambos da Rede Fhemig. Por dia, o Galba Ortopédico realiza em torno de dez cirurgias, grande parte com vítimas graves e, dessas, a maioria jovens entre 18 e 25 anos de idade. Alguns, vítimas de acidentes envolvendo uso abusivo de drogas.
Segundo o chefe do Serviço de Toxicologia do HPS, Délio Campolina, em casos de urgência o paciente que se apresenta drogado ou bêbado pode dificultar o atendimento. Muitas vezes é preciso saber que substância ele usou para identificar o motivo da não resposta a um tratamento. No Serviço, em 2002, dos 325 pacientes pesquisados 126 tinham feito uso de cocaína ou crack, 74 tinham abusado do álcool, 62 usaram medicamentos diversos e 18 haviam inalado thinner.
CPP
Levantamento realizado pelo Centro Psicopedagógico (CPP), da Rede Fhemig, mostra que em 2002, dos 295 atendimentos psiquiátricos realizados no serviço de urgência, 41 eram usuários de drogas, 9 de álcool e 11 utilizavam as duas combinadas. A maioria (25) tinha 17 anos. Os demais estavam distribuídos entre usuários de 16 anos (18), 15 anos (7), 13 anos (5),14 anos e 12 anos (2) e 10 anos (1). Outros 65 pacientes iniciaram tratamento no CPP sendo 53 deles usuários de drogas e 2 de álcool.
No CPP não há demanda espontânea. Todos os casos são encaminhados por outros serviços.
Os dados do Centro confirmam pesquisa realizada em 2002 pelo Conselho Estadual de Entorpecentes (Conen-MG), que apontava para o primeiro contato com as drogas cada vez mais precoce, em média, na faixa etária de 15 a 24 anos.
Fonte:
Agencia Minas