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29.5.09
“Continua a doer, mesmo tendo passado tanto tempo, porque é uma pergunta que ficou no ar”. As palavras são de Delva Fiúza Palma, mãe de Ednilton, que desapareceu em Maringá quando tinha dez anos. Ednilton Palma e José Carlos dos Santos, então com 11 anos, são as duas crianças maringaenses que continuam desaparecidas desde março de 1992.
“Na verdade, o meu não é mais criança, né?”, lembra Delva, com um sorriso amargo. A proximidade entre as datas dos dois casos desperta suspeitas na mãe de Ednilton. “No começo do mês sumiu o José Carlos, alguns dias depois o meu Niltinho e logo depois uma criança em Londrina”.
Delva acredita que os casos estejam relacionados e se espanta ao ver que crianças continuam desaparecendo. “Tem peixe grande nessa história de sumiço de crianças. Se fosse lambari eles já tinham sido pegos”. A reportagem de O Diário não conseguiu obter junto à polícia o endereço ou alguma forma de contato com a família de José Carlos dos Santos. Os nomes de seus pais não constam na lista telefônica de Maringá.
Ainda que o caso de seu filho, como vários outros, não tenha sido solucionado, Delva evita criticar o trabalho de investigação da polícia . “Não tenho o que reclamar de ninguém, foram feitos muitos esforços de procura e ainda hoje eles [os policiais] mantêm contato”.
Delva também faz questão de dar crédito ao trabalho do Movimento Nacional em Defesa da Criança Desparecida do Paraná (Cridespar), entidade com sede em Curitiba, fundada em 1991 por Arlete Caramês, depois do desaparecimento de seu filho Guilherme Tiburtius.
“Com a atuação deles, deu para colocar foto do Niltinho até em Portugal e no Japão”, conta. Delva observa, no entanto, que a entidade perdeu força depois que Arlete deixou de ser deputada estadual. “Antes, eu ia a Curitiba de 15 em 15 dias para passeatas, agora não há mais um acompanhamento tão efetivo”.

Próprio bolso
A coordenadora do Cridespar, Marília Marchese, confirma a diminuição das atividades da organização e atribui isso à falta de ajuda do governo. “Quem sustenta agora é a Arlete, do próprio bolso. Quando ela era deputada as pontes se abriam mais”. Marília faz questão de afirmar que apesar da queda de orçamento a Cridespar continua ativa e ajudando a resolver diversos casos de crianças desaparecidas no Paraná.
Depois de tanto tempo, Delva ainda mantém a expectativa de ter seu filho de volta, embora às vezes se deixe contaminar pelo pessimismo. “Queria muito que ele aparecesse, mas de vez em quando me pego pensando que ele está morto. Era um garoto muito esperto, já teria dado um jeito de fazer contato”. A frase depressiva é seguida de uma manifestação de esperança: “A não ser que o tenham levado para muito longe”.
Delva ainda expõe teorias que não declarou à época do desaparecimento. “Depois de tanto tempo, acho que não tem problema falar”. Segundo a mãe de Niltinho, o garoto estava andando muito com um vizinho que depois se revelaria envolvido com tráfico de drogas. “Ele chegou a me dizer, em tom de brincadeira, ‘ainda vou levar esse garoto’. Sabe como é, essa gente no começo parece simpática”.
Delva diz que, por falta de provas, não fez uma denúcia na época à polícia. O vizinho foi morto há alguns anos, num acerto de contas. “Se ele mexeu com meu filho, foi muito bem pago”, diz. A mãe de Niltinho preserva uma imagem alegre do filho. “Era a paixão de toda família, encantador. Guardo a imagem dele na minha memória. A é imagem de quando o vi pela última vez”.
‘Nós nunca desistimos’, diz policial
O Setor de Informação e Captura (SIC) da Polícia Civil de Maringá é o órgão que, entre outras funções, faz a busca de pessoas desaparecidas. O chefe do setor, o investigador Paulo da Silva, explica que há uma diferença entre a procura por adultos e por crianças.

Para os maiores de idade, deve ser respeitado um prazo de 24 horas a partir do desaparecimento até a busca começar, enquanto para a investigação dos casos envolvendo menores a polícia é deslocada imediatamente.

“O problema é que, quando são adultos, muitas vezes o ‘desaparecimento’ é voluntário. É marido que quer fugir da mulher, ou que sai pra beber…”, comenta o policial. O desajuste familiar e o uso de drogas são apontados como as causas mais comuns para os desaparecimentos.
Entre crianças e adolescentes, os únicos casos em aberto na cidade são os de Ednilton e José Carlos, desaparecidos desde 1992. “É uma situação triste, de crianças que sumiram e nunca mais voltaram. Mas sempre se pode ter esperança, estamos atentos e nunca desistimos”, diz Silva.
A polícia de Maringá também está envolvida na investigação do caso de Ariele Botelho, 2 anos, desaparecida em Lidianópolis no dia 15 de maio. “Oferecemos ajuda para as cidades próximas, mas até agora não temos novidades na busca da Ariele”.
O chefe do SIC reclama do comportamento de muitas famílias que registram boletim de ocorrência sobre desaparecimento de familiares. “Muitas vezes, é um adolescente que acaba sendo encontrado sem a participação da polícia e quem registrou a ocorrência não volta para dar baixa”.
O comportamento, segundo Silva, é constante e atrapalha outras buscas ao deslocar pessoas do corpo policial para um caso já resolvido, enquanto outros estão em aberto. “Trabalhamos seriamente e precisamos de cooperação”, diz o investigador.
Adultos têm menos atenção

O caso mais recente de desaparecimento em Maringá envolve Aline Torchi, de 33 anos. Mãe recente, Aline foi vista pela última vez no dia 19. Seu pai saiu às compras e quando voltou não encontrou mais a filha, que morava com ele na rua João Alfredo, na Zona 4. O desaparecimento preocupa os familiares especialmente porque Aline tem leve retardo mental relacionado a esquizofrenia.

Segundo um familiar que pediu para que seu nome não fosse mencionado, a polícia não tem dado muita atenção ao caso. “Eles não vão muito atrás. Parece que quando é adulto que desaparece eles partem do princípio de que foi simples fuga”.
A família informa que lavrou Boletim de Ocorrência um dia depois do desaparecimento de Aline; desde então, não houve nenhum retorno policial.
“Estamos desesperados, sem saber a quem apelar”. Além da polícia, a família já procurou em hospitais e albergues da região, sem sucesso.
Corre na internet um pedido de apelo escrito pela irmã da Aline, exibindo fotos e oferecendo telefones de contato para quem dispuser de informações.
“Temos de tentar de tudo, há um grande receio que ela caia nas mãos de… Você sabe, essa bandidagem”, diz a irmã.
A família pede um tratamento mais atencioso da parte das autoridades. “Até entendo que uma criança seja mais importante. Mas a Aline tem problemas, merecia mais cuidado”.
Em caso de reconhecimento de Aline, a família pede para que se entre em contato pelo telefone (44) 9949-7078.



O Diário
link do postPor anjoseguerreiros, às 19:13  comentar

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colaboradores: carmen e maria celia

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