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1.3.09
Desde pequena, ginasta aprendeu a conviver com a dor e a superação. Agora, tem um novo desafio pela frente

RIO - Aos 17 anos, Jade Barbosa, estrela da ginástica olímpica do Brasil e medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio, pode ter sua carreira abreviada por causa de uma grave contusão no punho direito. O médico que a assiste, Sandro Deodato, disse que só o tempo definirá se ela continua ou não praticando o esporte de alto rendimento. Até porque, segundo ele, a lesão da ginasta é rara e fazer qualquer prognóstico, no momento, seria um verdadeiro "chute".
Jade tem uma necrose no capitato, um pequeno osso no meio da mão, detectada após os Jogos Olímpicos de Pequim. O problema a impede de treinar em todos os aparelhos. Para não forçar o punho, vai competir neste ano na trave e, talvez, no solo. Teve de abrir mão do salto, sua especialidade, o que lhe deixou inconformada.
A contusão de Jade virou até tema de estudo para especialistas brasileiros e estrangeiros durante um curso ministrado recentemente pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
"Não é um caso que vá ter conclusões, mas opiniões. A tendência é ter um desarranjo do punho dela. O osso está morto e pode afetar os outros (da mão direita)", explicou Deodato. "Ela tem duas Olimpíadas pela frente. A evolução é um pouco incerta, mas a ideia é levá-la."
Desde jovem, Jade sabe o significado das palavras dor e superação. Aos 9 anos, perdeu a mãe, Janaína Fernandes, vítima de aneurisma cerebral. Apegou-se ainda mais à ginástica. Ainda na infância viu sua responsabilidade crescer. Assumiu o papel feminino na vida do irmão, Pedro, então com 3 anos.
O amadurecimento veio tão rápido quanto o sucesso na ginástica. Aos 13 anos, deixou a casa do pai, o arquiteto César Barbosa, para servir à seleção brasileira no Centro de Treinamento de Curitiba. O esforço valeu a pena. Jade brilhou nos Jogos Pan-Americanos de 2007, com uma medalha de ouro no salto, uma de prata no geral por equipes e uma de bronze no solo. Tornou-se a maior revelação da ginástica nacional, apontada como a sucessora de Daniele Hypólito e Daiane dos Santos.
Embora seu futuro seja cercado de incertezas, Jade leva a vida com otimismo. Curtiu o carnaval no Rio com o namorado Lucas, de 16 anos, e quer esquecer os últimos meses. Sofreu bastante com uma crise renal, a contusão no punho e, principalmente, com a ameaça de dispensa do Flamengo, time que representa desde os 6 anos.
Em janeiro, a diretoria rubro-negra alegou falta de dinheiro e anunciou o fim da ginástica na Gávea. A situação só foi contornada porque a Prefeitura de Niterói decidiu patrocinar com R$ 80 mil mensais.
Nessa época, Jade entrou em atrito com a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). "Até hoje ninguém de lá me ligou para saber como estou", desabafou. O Estado tentou saber os motivos, mas não obteve resposta da entidade. Com tantos problemas, a ginasta contratou há dois meses uma psicóloga.
A reportagem passou algumas horas com a atleta. O dia escolhido: quinta-feira, 19 de fevereiro. Às 6h55, Jade saiu de um edifício localizado numa das ruas mais movimentadas de Copacabana. Estava acompanhada do irmão Pedro - já com 11 anos -, que também treina ginástica no Flamengo.
Com fichário escolar nas mãos e mochila nas costas, Jade misturou-se à multidão que circulava pela calçada em frente ao prédio onde mora. Com cara de sono, fez sinal para um táxi - iria deixar o irmão no colégio e seguir para a Gávea.
Seu anonimato durou pouquíssimos minutos. "Você é aquela da ginástica?", perguntou Maria Cristina, que trabalha numa loja ali por perto. "Sou sim", respondeu Jade, já habituada com o assédio. "Pode me dar um autógrafo?", arriscou Maria Cristina. A resposta foi positiva. A fã guardou na bolsa o papel com a assinatura da ginasta e despediu-se.
Jade, então, conseguiu parar um táxi. Ao entrar no carro, o motorista Adilson não a reconheceu. "Por que estão tirando foto de você?" Ela limitou-se a dizer que estava sendo entrevistada, sem dar mais detalhes.
O primeiro destino foi o Colégio Sagrado Coração, em Copacabana. Antes de saltar do veículo, Pedro recebeu um beijo na testa da irmã, que lhe disse: "Eu te amo". Jade é de poucas palavras. Ao passar pela Lagoa Rodrigo de Freitas, elogiou o dia de sol. "Como está lindo!"
Chegou ao clube por volta das 7h10, cumprimentou o porteiro e foi direto ao vestiário. Normalmente, treina até 11h30. No entanto, deixou a atividade mais cedo por causa de uma crise renal. Foi medicada e voltou para casa. Não fosse o contratempo, iria para o colégio ao meio-dia e, depois, retornaria à Gávea por volta das 18 horas.
Faria mais 3 horas de exercícios e, enfim, regressaria para o lar, a tempo de ver televisão e estudar. "Amo o que faço e não sinto mais dor no punho direito. Estou feliz." Apesar do ceticismo dos médicos, Jade não se abala. Acostumada à dor e à superação, tem certeza que vai seguir firme na carreira.


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link do postPor anjoseguerreiros, às 19:05  comentar

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colaboradores: carmen e maria celia

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