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17.1.09
SÃO PAULO - Os quatro irmãos adotados por um casal homossexual de Ribeirão Preto, no interior paulista, sofriam maus-tratos da mãe biológica, que tinha envolvimento com drogas, e a Justiça determinou que as crianças fossem internados no Centro de Abrigo e Apoio à Adoção de Ribeirão Preto (Caribe) em 2003. Suelen, a mais velha dos quatro, tinha na época seis anos. Ana Beatriz, a mais nova, 7 meses. Como costuma ocorrer nesses casos, apareceram candidatos apenas para adotar Ana Beatriz e William, que então tinha cerca de dois anos. A outra menina, Caroline, tinha cerca de 4 anos.
Porém, a Justiça determina que os irmãos sejam mantidos juntos e eles ficaram quatro anos no abrigo à espera de adoção. Ela só ocorreu porque João Amâncio, de 37 anos, e Edson Paulo Torres, de 42, queriam adotar exatamente crianças mais velhas. Juntos há 17 anos, os dois já haviam criado dois dos três filhos biológicos de Torres.
- Os dois cresceram, a menina casou e o rapaz quis ir morar na casa da mãe. A gente ficou com a casa vazia. Eu já pensava em adotar porque tinha o sonho de ser chamado de pai. Foi por isso de resolvemos ir ao abrigo - conta Amâncio, que é mais conhecido na cidade como John.
Ele conta que já na primeira visita, o casal é que foi 'adotado' por Suelen.
- Ela mandou uma carta para o juiz, dizendo que só aceitaria se separar dos irmãos se fosse para viver com a gente. Isso nos comoveu muito - diz Amâncio.
Em 2006, o juiz Paulo César Gentile acabou concedendo a tutela dos quatro para Amâncio. Desde então, a mãe biológica nunca procurou pelos filhos.
- No começo, foi meio difícil. O Torres se assustou. A gente teve que aumentar a casa, comprar um carro maior, para caber todo mundo. Mas fomos dando um jeitinho. Eu só pensava que meu pai, com muito menos dinheiro, havia criado 15 filhos. Então, eu daria conta dos quatro. Foi só deixar de comer fora, cortar as saídas à noite, que deu tudo certo - afirma Amâncio, que um ano depois conseguiu a guarda provisória dos irmãos.
Ele conta que os dois ainda contrataram uma empregada doméstica para cuidar das crianças enquanto estão trabalhando. Os dois são cabeleireiros e têm um salão em Ribeirão Preto.
- Acabei ganhando em qualidade de vida. Agora, como comida fresquinha, feita na minha casa, ao lado dos meus filhos. Sempre jantamos juntos e procuramos passar todo o tempo livre com eles. O Torres já até pensa em adotar mais um, mas eu acho que ainda temos que curtir bastante esses quatro, que ainda estão pequenos e precisam da nossa atenção - afirma Amâncio.
Segundo ele, a felicidade estará completa na casa quando chegarem os novos documentos das crianças, que ainda estão sendo providenciados. Sobre preconceito, Amâncio afirma que não se sente discriminado.
- As pessoas podem até falar por trás, mas, quando me encontram na rua ou no supermercado, a maioria só tem elogios. Já fui até abraçado no supermercado, por causa da adoção. As pessoas me cumprimentam. Eu aceito tudo isso como sendo de coração - afirma o cabeleireiro, acrescentando que o mais difícil em sua vida foi se assumir como homossexual.
- O preconceito maior era meu mesmo. Tinha muita dificuldade em me aceitar - afirma Amâncio.
Ele diz que parte dessa questão foi resolvida ao escrever o livro "Adoção de 4 Irmãos", lançado no ano passado. Ele e Torres escreveram o livro para contar como ocorreu a construção da família e as dificuldades do processo. De acordo com Amâncio, não houve preconceito do Judiciário, que tratou a adoção como sendo por pais heterossexuais.
- O importante é o afeto e o cuidado que temos com eles. Damos a eles um lar como outro qualquer. A diferença é que eles têm dois pais - diz Amâncio.
Outro ponto interessante dessa família é que a ex-mulher de Torres é muito amiga dos dois e os aconselha na criação dos meninos.
- Ficamos muito próximos porque praticamente criamos dois filhos dela. A gente achava que ela tinha de estar presente e por isso sempre mantemos uma boa relação. Hoje, não tenho o menor problema em me aconselhar com ela quando estou com dúvidas sobre o que fazer com um dos quatro. Ela vai ser até madrinha da Carol - conta.


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link do postPor anjoseguerreiros, às 12:56  comentar

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colaboradores: carmen e maria celia

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