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15.2.09
Imagem: A carta, o pedido ao seguro jurídico e a condenação com a multa

Como todos os brasileiros foram informados, um dos motivos que levou Paula Oliveira a procurar ajuda dos pais e da imprensa no Brasil foi o sentimento de impotência e a sensação de estar sendo maltratada pela polícia suíça. Vamos aqui deixar de lado as considerações sobre o suposto ataque. Não podemos generalizar, mas o fato é que a principal "clientela" da polícia helvética é de estrangeiros (isso pode ser confirmado pelas estatísticas oficiais). Também as cadeias helvéticas têm um número proporcionalmente elevado de pessoas sem o passaporte vermelho com a cruz branca, incluindo muitos brasileiros (eu já entrevistei um deles). Psicologicamente isso talvez explique (mas não justifica) o tratamento rude dado pelas autoridades.
A Anistia Internacional na Suíça publicou em 2007 um relatório intitulado "Polícia, Justiça e Direitos Humanos", onde relatam diversos casos de abusos e racismo na Suíça.
O único deputado federal negro do Parlamento helvético, o angolano Ricardo Lumengo, contou em entrevista experiências negativas como ser jogado no chão durante uma batida somente por ter pedido a identidade de um dos policiais. Um dos agentes teria dito para ele: "98% dos negros são traficantes e por isso temos de controlar você.
"Eu mesmo também vivi uma experiência surreal. Vou contar a história para vocês, pois vale à pena. Tudo começou num domingo triste e frio de novembro do ano passado, quando as ruas de Berna estavam praticamente desertas. Como não tinha mais leite, decidir dar um pulo ao supermercado da estação de trem da cidade com a minha bicicleta. Para acompanhar-me durante o trajeto, o meu Ipod nos ouvidos. Poucos metros antes de chegar ao supermercado, repentinamente um carro da polícia me ultrapassou em alta velocidade e acendeu o sinal eletrônico exigindo que eu parasse no acostamento. O susto me fez pensar se havia atropelado, sem perceber, alguma velhinha.
Os dois agentes saltaram e logo pediram meus documentos. Acuado, entreguei-os e perguntei o motivo do controle. “Você tirou a mão do guidão, percorreu alguns metros em cima da calçada e está escutando música, todas ações perigosas no trânsito”, disse o primeiro deles. Eu olhei para os lados e não via num raio de dois quilômetros nenhum cidadão nas calçadas ou até mesmo um veículo. Afinal, nos domingos de chuva e frio, todos preferem ficar em casa. Além disso, eram 9 horas da manhã. Argumentei que era necessário passar por cima de uma calçada porque a ciclovia terminava naquele ponto.
O segundo policial foi impassível: “Então o senhor deveria ter saltado da bicicleta, caminhado os três ou quatro metros e depois retornado à rua”. Vi que a discussão era inútil. Depois de anotar os meus dados, eles disseram que registrariam a queixa na delegacia e que eu receberia em breve uma carta.
Ainda tentei argumentar, explicando-lhes que a região onde estávamos é utilizada diariamente por dependentes de drogas e traficantes e que eles teriam muito trabalho a fazer. Até a cabine telefônica vira ponto de aplicação de drogas injetáveis, pois é o único local com iluminação 24 horas por dia. Todos os habitantes vêem diariamente essas cenas.
O segundo policial, aparentemente aborrecido, apenas se limitou a explicar que existia uma delegacia anti-narcóticos responsável pelo assunto. “Só cuidamos do geral."
A carta chegou, mas não pude respondê-la por estar no exterior. Assim perdi o direito de entrar com recurso (eram 10 dias de prazo). Nela estava escrito que eu havia sido condenado e devia pagar uma multa: 300 francos (600 reais). Como bombom de consolo, minha ficha policial continuaria limpa.
Eu ainda tentei pedir auxílio aos advogados do meu seguro jurídico, mas eles disseram que eu não teria a menor chance. Condenação é condenação! A lição que aprendi: não cometa erros na Suíça. A segunda: não discuta com policiais. A terceira: talvez na próxima vez eles cortem as minhas mãos se inventar de coçar as orelhas durante um passeio de bicicleta.
Enviado por Alexander Thoele

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link do postPor anjoseguerreiros, às 12:43 

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