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1.4.09
Há colégios com plano de emergência para tiroteio e vizinhos à área onde corpos são deixados

Rio - São 11h50 de uma segunda-feira e a saída dos alunos da Escola Municipal Assis Chateaubriand, em Vila Isabel, está suspensa. Não se ouve a algazarra típica dos jovens: o som assustador de tiros invade os corredores onde eles estão sentados no chão, como numa trincheira, para escapar de balas perdidas. Eles seguem plano de emergência aplicado pela direção quando explode a violência no local. A rotina de medo não é exclusiva da unidade, que fica numa das entradas do Morro dos Macacos. A escola é uma das 150 da rede municipal que recebem a partir de maio o projeto Escolas do Amanhã, da prefeitura. O objetivo é transformar a realidade educacional em áreas dominadas pelo tráfico e milícias com atividades culturais e esportivas.
“Conflitos armados afetam a aprendizagem das crianças”, observa a diretora da Assis Chateaubriand, Isabel Cristina Azevedo, que trabalha com 410 alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, a maioria, do Morro dos Macacos. Em março de 2007, uma das alunas, Alana Ezequiel, 12 anos, morreu atingida por bala de fuzil nas costas. O tiro foi disparado em confronto entre traficantes e PMs. Estudante do 4º ano, ela tinha acabado de deixar a irmã caçula numa creche na favela.
O plano de emergência prevê outras medidas. Quando começa troca de tiros, a turma que faz Educação Física na quadra já sabe que deve entrar no prédio pela cozinha, o acesso mais próximo. Em dias normais, o trânsito dos jovens é proibido ali.
Quando cessa o tiroteio, estudantes recolhem cápsulas de fuzis na calçada da escola — 15 cápsulas de calibre 5.56 e fragmento de um projétil foram entregues a professores e estão guardados na direção. Segundo a diretora, balas perdidas já atingiram o prédio e até um portão interno perto da entrada, mas até hoje ninguém foi atingido dentro do colégio.
A comunicação entre as quatro unidades municipais no morro é outra medida para salvar vidas. Quando a polícia entra na favela pelo acesso ao lado da Assis Chateaubriand, a diretora telefona para o Ciep Salvador Allende e as escolas Mário de Andrade e Noel Rosa. Se bandidos rivais do Morro dos Macacos ou policiais entram por outros acessos, são outras unidades que alertam a Assis Chateaubriand. A partir daí providências são tomadas, como a suspensão do recreio.
Em 2008, a Assis Chateaubriand foi incluída pela primeira vez no Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE). Seu desempenho ficou abaixo da média estipulada pelo governo federal. Para a diretora, a culpa é da violência, que causou impactos em índices medidos pelo PDE, como o de reprovação.

CADÁVERES NO CAMINHO ATÉ A ESCOLA
No caminho dos alunos da Escola Thomas Jefferson, em Acari, há áreas demarcadas por quadrilhas de traficantes rivais de cinco favelas. Às vezes, eles também cruzam com corpos num terreno baldio em frente. A violência reduziu em 10% o número de alunos matriculados este ano na unidade, também beneficiada pelo Escolas do Amanhã. “Em janeiro, algumas mães no polo de matrícula não queriam os filhos aqui, dizendo que a toda hora aparecem cadáveres por perto”, lamentou a diretora Célia Regina Honorato Oliveira.
Da janela na sala da direção, Célia vê o monte de restos de obra e mato alto, onde corpos são abandonados: “Já pedimos providências à CRE (Coordenadoria Regional de Educação) para esse terreno”. “Passo todo dia na boca de fumo pra vir estudar. Vejo todo mundo armado e se drogando”, conta M., 11 anos.
Na divisa entre Vigário Geral e Parada de Lucas, o Ciep Mestre Cartola, outro incluído no projeto, também é cercado de violência. Dia 10, PMs entraram na escola em busca de armas e drogas sem autorização. O fato foi comunicado à Secretaria de Segurança.
Hoje, professores das redes municipal e estadual prometem cruzar os braços. Eles farão manifestação às 10h na Prefeitura do Rio.

Alunos agressivos e desanimados
Agressivos, desatentos e desanimados. O comportamento de alunos da rede municipal que convivem com a violência das comunidades é enfrentado pelos professores como uma equação difícil de se resolver. “Não posso demonizar o aluno que me agride. As perspectivas de vida dele são limitadas e precisamos buscar soluções para reverter isso”, ensina o professor de História Affonso Celso Pereira.
Em julho de 2008, ele saía da Assis Chateaubriand quando se deparou com fuzis da PM apontados em sua direção. E já presenciou tiroteios. A proximidade de casa e o desejo de ajudar a melhorar a vida dos alunos são as razões da escolha arriscada. A diretora Isabel Cristina costuma alertar os professores novos: “Aviso logo: ‘De vez em quando você pode tomar uns sustos’”.
Professora de turmas de portadores de necessidades especiais, Marluce Fernandes da Conceição também resiste a sair da Thomas Jefferson, em Acari, apesar da violência que fez a unidade ser escolhida para o projeto Escolas do Amanhã. Em 2000, quando estava no fim da gravidez, confronto obrigou a suspensão das aulas. “Eu e outras colegas passamos muito mal”, recorda ela, que se intitula ‘caroneira’, pois vai embora com professores que têm carro para evitar o perigo de esperar ônibus no breu da Av. Pastor Martin Luther King Jr.



link do postPor anjoseguerreiros, às 16:42 

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