CURITIBA - A polícia do Paraná mudou a versão para o crime ocorrido no Morro do Boi, em Caiobá, no Paraná. O
homem preso e reconhecido pela estudante Monik Pegorari Lim a, de 23 anos, poderá ser indiciado por latrocínio - roubo seguido de morte - e atentado violento ao pudor. A nova versão é que o criminoso teria assaltado o casal de jovens antes de matar o rapaz e balear a estudante. Um outro ponto importante do caso também ganhou uma outra versão: o homem não teria estuprado a universitária, e sim cometido atentado violento ao pudor, ou seja, tocado nas partes íntimas da vítima sem chegar ao ato sexual.
A polícia tem dez dias para concluir o inquérito após a prisão. E o Ministério Público, depois disso, tem cinco dias para oferecer ou não a denúncia. Só assim o processo judicial será aberto e o homem passará a responder a processo.
O acusado,
Juarez Ferreira Pinto é solteiro, não tem filhos e seria irmão de um policial civil de Curitiba , que estaria ajudando na investigação. Em depoimento à polícia, teria contado aos delegados que no dia do crime estava em Pontal do Paraná. Afirmou ainda, segundo fontes policiais, que não conhece o Morro do Boi e nunca foi para Matinhos.Após ser preso, o homem alegou que estava passando mal por conta de dores abdominais e teve de ser medicado no Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Matinhos. Algemado pelos pés, o homem ficou por quase duas horas no hospital, onde tomou soro e uma injeção contra a dor.
Os exames médicos, no entanto, não teriam revelado problema de saúde. Na terça-feira à noite, logo após ter sido reconhecido por Monik, o suspeito teve o sangue recolhido. A informação é de que ele é portador do vírus HIV.
O delegado coordenador das investigações, Luiz Alberto Cartaxo, afirmou à Secretaria de Segurança Pública do Paraná que o homem vai responder por atentado violento ao pudor, e não por estupro, porque a jovem não teria declarado ter sido estuprada.
Por meio de um texto divulgado no site da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, a polícia informou ainda que a camiseta polo encontrada no local foi descartada como prova criminal: o exame de DNA feito pelo Instituto de Criminalística comparando o material genético do homem preso e o de uma mancha de sangue na camiseta deu negativo.
Veja a seguir a transcrição de uma entrevista com o delegado Cartaxo, feita na tarde de sexta-feira pelo repórter da Gazeta do Povo, publicada no Portal RPC:
Repórter - O senhor pode conversar comigo sobre a matéria que saiu na agência (Agência Estadual de Notícias, do governo do estado)?
Cartaxo - Não. É aquilo lá. Sem comentários.
Repórter - Só uma pergunta, por gentileza. O senhor me disse na sexta-feira (13) que não havia sido roubado nada do casal. E hoje veio a informação do indiciamento por latrocínio (roubo seguido de morte);
Cartaxo - Eu não lembro de ter dito isso para você.
Repórter - Está gravado aqui.
Cartaxo - Ah, você gravou? Então eu devo ter me enganado.
Repórter - O que mudou nesses (sete) dias?
Cartaxo - O depoimento dela. Foi feito na quinta-feira.
Repórter - Pois é, mas a gente conversou na sexta-feira.
Cartaxo - Não, o depoimento dela foi na segunda-feira.
Repórter - Na segunda-feira agora?
Cartaxo - É.
Repórter - E roubaram o que deles?
Cartaxo - Dinheiro.
Repórter - Quanto?
Cartaxo - Ah, vai. Tá na matéria? Você quer me derrubar de novo?
Repórter - Não.
Cartaxo - Então não me pergunte isso. Se não tá na matéria não é para noticiar.
Repórter - Roubaram dinheiro deles então?
Cartaxo - Acho que sim.
Repórter - Algum outro objeto de valor? Máquina, alguma coisa.
Cartaxo - Eu não vou te esclarecer isso, Karlos. P..., mas que coisa!
Repórter - Mas, doutor...
Cartaxo - Ah, pô. Ah, para de me encher o saco, c...
Repórter - Mas não elucidou o caso?
Delegado desliga o telefone.
A Secretaria diz apenas que a jovem carregava R$ 90 no bolso e que o dinheiro sumiu. Ao não ser indiciado por homicídio, o acusado ganha o direito de não ser julgado por júri popular.
Uma declaração do secretário de Segurança, Luiz Fernando Delazari, dá a entender que as investigações foram resolvidas.
- Este era mais um caso que desafiava a polícia do Paraná, mas o fato de a jovem ter sobrevivido, ser vítima e testemunha ocular do crime foi decisivo para elucidarmos o caso. Desde que tudo aconteceu, a polícia não descansou um minuto sequer para identificar e prender este criminoso, que agora será colocado à disposição da Justiça - disse.
A polícia, pelo menos até o momento, não apresentou provas materiais à imprensa ou ao advogado de defesa do suspeito que possam incriminá-lo.
A principal prova é testemunhal: a jovem reconheceu o suspeito como sendo o autor do crime. Há ainda outras duas testemunhas: uma que viu o mesmo homem descendo do Morro do Boi por volta das 21 horas do dia 31 de janeiro e outra que afirmou ter enxergado um homem com as características do suspeito na Praia Mansa, no dia seguinte ao crime, acompanhando o resgate da vítima. Ainda não se sabe as motivações do crime e onde está o revólver calibre 38 usado no atentado.
Colegas de trabalho do suspeito teriam dito à polícia que ele não foi visto no dia e horário do crime na empresa. Uma funcionária, disse que esteve com o suspeito entre 20 e 21 horas do dia 31 de janeiro. Ela contou que não prestou depoimento ainda porque não foi procurada para depor. É exatamente nesse horário que a polícia acredita que o homem voltou ao morro para molestar a jovem.
O advogado de defesa do suspeito, Nilton Ribeiro, diz estar indignado com a mudança na tipificação do crime, o que, segundo ele, foi uma manobra da polícia para que o caso não fosse a júri popular.
- Se hoje ele fosse julgado em júri, seria absolvido. Disseram que foi latrocínio, e não homicídio, para que o processo corra normalmente e seja julgado por apenas um juiz e um promotor e não por um júri de sete pessoas - disse.