Um menino brasileiro de 12 anos morreu eletrocutado ao cruzar a pé uma linha férrea na Argentina. De acordo com a família, o acidente ocorreu na estação Coghlan, na região central da cidade, e não havia sinalização de que o local oferecia risco.
Ítalo Henrique Sampaio Piceda, morador de São Vicente (litoral de São Paulo), morreu no último dia 17 de janeiro --três dias após seu aniversário--, mas a família só conseguiu trazer o corpo para o Brasil quase uma semana depois. Ele passava férias na casa da avó materna, que morava na Argentina havia quase oito anos e voltava para o Brasil. O menino chegou a ser levado a um hospital, porém, não resistiu aos ferimentos e morreu.
Para transportar o corpo ao Brasil, a família teve de mandar embalsamá-lo em uma empresa funerária particular. Ao chegar a São Vicente, no entanto, os familiares descobriram que o corpo já estava em estado avançado de decomposição e, por isso, não puderam realizar um velório com o caixão aberto.
Eu não pude nem velar meu filho com o caixão aberto. Os amiguinhos dele não puderam nem se despedir", diz a enfermeira Fernanda Sampaio Piceda, 36, mãe da vítima.
Traslado
A família reclama da burocracia para realizar o traslado do corpo. Após embalsamado, as autoridades locais teriam impedido duas vezes que o corpo embarcasse para o Brasil.
Uma hora disseram que faltava o carimbo de um juiz local. No outro momento, a Polícia Federal disse que faltava deixar claro que o corpo iria para o Brasil", afirma a avó de Ítalo, Isaura Josefina Sampaio Momenti.
De fato, o processo de extradição dos corpos de brasileiros mortos no exterior depende de uma série de exigências legais, conforme revelam informações disponíveis no site do
Ministério das Relações Exteriores. Foi somente com o acidente que a família soube que o consulado brasileiro na Argentina não poderia ajudar nos custos do processo.
Sem dinheiro suficiente para embalsamar e transportar o corpo, Fernanda conta que teve de fazer uma "vaquinha" entre os parentes. A família do menino estima que tenha gasto cerca de US$ 6.000 com o processo.
O próprio ministério brasileiro admite que o custo do procedimento é alto. "O custo destes procedimentos é elevado e o valor deve ser arcado totalmente pela família, uma vez que, por impedimento legal, o MRE [Ministério das Relações Exteriores] não pode ajudar financeiramente", informa. "Caso a família não disponha de recursos, o sepultamento poderá ocorrer no exterior, a cargo do Estado estrangeiro, nos termos da legislação local", explica o órgão, por meio do seu site.
Burocracia
Segundo a avó de Ítalo, enquanto aguardavam para que a mãe do menino chegasse à Argentina, o hospital informou que, caso Fernanda não chegasse logo, o corpo seria enterrado no país.
"Nós estávamos muito abalados. É impossível pensar em todas essas burocracias em um momento destes. Faltou compreensão das autoridades", desabafa a mãe.
Após a tragédia, a família avalia agora processar as instituições que diz ter agido com negligência. Para isto, Fernanda diz estar à procura de um advogado na Argentina.
"Eu não quero dinheiro. Só queria que o meu filho tivesse sido tratado com um pouco mais de sensibilidade", diz. O corpo do menino foi enterrado no último dia 22 em São Vicente.
Outro lado
A empresa TBA (Trenes de Buenos Aires), responsável pela estação de trem onde ocorreu o acidente, nega que o local não seja sinalizado, e disse que a área onde ocorreu o acidente é "cercada e proibida".
Por meio de sua assessoria, a empresa disse à Folha Online que prestou socorro e chamou uma ambulância para resgatar o menino.
A ETERNA BUROCRACIA QUE EXISTE MESMO E O DESCASO COM UMA VIDA HUMANA!!!!!