Crianças adoram dias de calor – elas vão a parques, piscinas e molham os pés na água do mar mesmo ainda bem pequenas. Mas a vigilância dos pais precisa ser grande porque a pele dos mais novos é bastante sensível e suscetível a doenças. Para você e sua família não perderem os dias de verão, fizemos uma parceria exclusiva com a Sociedade Brasileira de Dermatologia e trouxemos as últimas novidades e os melhores cuidados que você deve ter com a pele do seu filho. Saiba como evitar os cinco vilões da estação mais esperada do ano
1. A PRAIA
É bem na beirinha do mar, justamente onde as crianças mais gostam de brincar quando vão à praia, que fica uma das maiores ameaças à pele delas no verão: as águas-vivas. No último verão, esses animais invadiram o litoral brasileiro e se tornaram uma nova preocupação para os pais. Centenas de casos de queimaduras foram registrados no país e boa parte envolveu crianças. Apenas em Santa Catarina, pelo menos 50% dos acidentes registrados em janeiro atingiram os pequenos. O estado catarinense ao lado de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo foram os mais afetados.
As águas-vivas são animais aquáticos que liberam substâncias altamente irritantes quando entram em contato com algo. No último verão, chegaram à beira-mar por uma série de motivos ainda em estudo, que vão desde o aquecimento global até o aumento de turistas nas praias. A expectativa dos biólogos é que neste ano o problema continue.
Se alguém for atacado, deixe a parte em que os tentáculos estão presos embaixo da água do mar para se afrouxarem – ao tentar tirá-los, a quantidade de veneno será maior, assim como a dor. Banhe o local com água salgada ou jogue vinagre para neutralizar o veneno, assim as vesículas com a toxina não se rompem. Procure um médico, que prescreverá antiinflamatório e analgésico. A dor deve melhorar em algumas horas. Se o caso for grave, vá ao pronto-socorro imediatamente.
Outro inconveniente das praias para a pele do seu filho são os bichos geográficos. A única maneira de evitá-los é freqüentar areias em que cachorros e gatos sejam proibidos, porque eles são encontrados nas fezes desses animais. A regra deveria valer para toda a costa brasileira, o problema é que nem sempre é assim. Outra opção é andar de chinelos, mas além de não ser tão gostoso quanto caminhar descalço, na hora de correr para o mar não tem jeito: os pés estarão sem proteção. Quanto à areia, fique tranqüilo. Ela não vai causar alergia. Se a pele da criança for sensível e ficar irritada, jogue água doce no corpo dela, enxugue-a e deixe-a sobre uma canga ou toalha.
2. A PISCINA
Que criança resiste a um mergulho na piscina? Aquecida ou ao ar livre, é preciso cuidado ao freqüentá-la com seus filhos. Se ela não recebe tratamento de limpeza adequado pode causar doenças de pele, principalmente nas crianças. Uma das responsáveis seria a bactéria Pseudomonas aeruginosa, presente na água e transmissível ao toque, segundo pesquisa norte-americana. Ela deixa as unhas esverdeadas. Neste ano, seis bebês morreram nos Estados Unidos vítimas dessa bactéria. Descobriu-se que as enfermeiras da maternidade usavam unhas postiças e a bactéria estava ali. Por isso, o cuidado tem de ser também com quem cuida do bebê, sejam os pais, os avós ou a babá. Alguns sinais que podem o ajudar a escolher uma piscina livre de riscos são a cor e o odor da água. Se ela for escura e tiver cheiro ruim, fique longe. Conhecer o ambiente, pedir informações para quem o freqüenta e verificar como o tratamento da água é feito podem ajudá-lo, principalmente quando você viaja com as crianças para um local novo. Outro perigo – este sim mais freqüente – são as frieiras, um tipo de micose que atinge mais os pés. Se a água do lava-pés ou da piscina não é tratada e trocada com freqüência, a criança pode desenvolvê-las. O tratamento é feito com soluções tópicas ou remédios, sempre com indicação médica.
No caso da água das piscinas, o excesso de cuidado também pode ser prejudicial, por mais contraditória que essa informação pareça. O cloro, assim como as outras substâncias usadas no tratamento da água, pode provocar ressecamento da pele e até alergias em pessoas sensíveis ou que tenham a pele muito seca. Se seu filho é alérgico ao cloro, procure locais que não utilizem o produto, como piscinas salinizadas, que deixam a pele mais hidratada. Caso não tenha opção, deixe a criança na água com cloro por períodos curtos, leve-a para tomar uma ducha em seguida e passe hidratante pós-sol. Como não existe um produto específico para os cabelos das crianças que os proteja do sol e da água, aplique um pouco de condicionador nas pontas dos fios após o banho se você notar que ressecaram.
3. O SOL
O protetor solar é o mais importante aliado contra os problemas causados pelo sol, mas não é o único. No Brasil, a situação é assustadora. Pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia no ano passado, com mais de 31 mil pacientes com câncer de pele, mostrou que apenas 26,9% dos entrevistados usavam protetor ao se expor ao sol. Quem tem filhos corre outro risco: o filtro solar dá a falsa sensação de que as crianças estarão protegidas por horas. Além de ir à praia nos horários em que o sol está baixo, antes das 10 h ou depois das 16 h, você deve repor a cada duas horas o protetor com FPS 30 – acima disso, eles ficam quimicamente mais fortes e o efeito não é tão maior a ponto de compensar o uso. Se a criança entrar na água, é preciso enxugá-la e aplicá-lo de novo, imediatamente. Outro cuidado é com a quantidade: não basta usar pouco e espalhar bem. O ideal é 2 ml do produto por cm2 do corpo, traduzindo: um frasco não dura mais do que dois dias para uma família de quatro pessoas. Crianças a partir de 6 meses estão liberadas para usá-lo.
Se você está achando tanto cuidado um exagero, lembre-se de que se seu filho tomar banho de sol muito forte a probabilidade de ele ter melanona na fase adulta – o pior tipo de câncer de pele – pode dobrar. Não se esqueça também da proteção adicional, como chapéus com abas que protejam a nuca e as orelhas, óculos de sol de boa qualidade, camiseta de cor escura e trama cerrada e guarda-sol. Advertências descumpridas podem significar ardência na pele, que pode ser tratada com hidratante pós-sol ou alguma loção indicada pelo médico – e não com alguma combinação de ingredientes caseiros, que podem agravar a lesão e piorar o ardor.
Quanto mais clara é a pele, mais cuidados exige. Áreas com sardas são as de maior concentração de células produtoras de pigmento (os melanócitos) e surgem cedo em pessoas mais claras como forma de defesa contra o sol. Ruivos, por exemplo, precisam ir periodicamente ao dermatologista e, ao contrário dos demais, usar filtro com proteção 30 (no mínimo!).
O sol pode, ainda, provocar outras alterações na pele se entrar em contato com frutas cítricas (como figo e limão), algumas gramíneas, perfumes florais e até aspargo fresco, que contêm uma substância fototóxica (psoraleno) em seu suco ou casca. Ao ser absorvida pela pele e com exposição solar, a substância provoca reações até 24 horas após o contato, que incluem de pigmentação leve até bolhas profundas. Em casos simples, lave bem o local e proteja-o do sol até completa regressão das manchas. Se forem intensas, procure um médico.
4. AS ALERGIAS
As picadas de insetos e o aparecimento de brotoejas são as queixas mais comuns nos consultórios dermatológicos durante o verão. A primeira recomendação contra insetos que você vai ouvir é proteger as crianças com roupas que cubram braços e pernas – tática incompatível para quem mora em países tropicais. Nos Estados Unidos e na Europa, as queixas diminuíram depois da criação de um aparelho eletrônico, para carregar como colar no pescoço, que emite ondas capazes de afastar os insetos. A tecnologia não chegou ao Brasil; se você quiser comprar, aproveite os amigos que vão viajar para o exterior e peça um.
Se não tiver esse aparelho ou se o tempo não esfriar, você vai precisar proteger seu filho. Converse com o médico sobre o uso de um repelente específico para crianças, a partir do sexto mês. Aplique-o nas áreas de maior exposição no máximo duas vezes ao dia, porque o uso excessivo pode causar intoxicação. Não passe nem no rosto nem nas mãos por haver risco de ingestão do produto. Tomar vitamina B também funciona, mas algumas erupções, como espinhas, podem aparecer na pele.
Além do repelente, proteja sua casa a partir do início da tarde. Coloque telas nas janelas e não deixe portas abertas. Ventilador e ar-condicionado afastam os insetos, mas velas de citronela funcionam melhor contra moscas do que contra pernilongos e borrachudos. Você pode ter mosqueteiros em casa, que precisam ser higienizados com freqüência para não acumularem pó. Se usar aparelhos de tomada contra os mosquitos, ligue-os quando a criança não estiver no quarto e desligue-os quando ela for dormir. Tente fugir de hotéis e pousadas à beira-rio, à beira-mar ou próximos de mata fechada. As crianças que têm reações alérgicas graves podem usar, a partir de dois meses, um medicamento específico que tem eficácia de uma semana. Só o médico pode indicá-lo.
As brotoejas, bem como os pernilongos, são mais comuns no verão. A criança sua mais e as glândulas podem inflamar. Além do tratamento com loções à base de hidróxido de alumínio ou calamina pura, você deve refrescar seu filho com compressas frias e roupas frescas. Cuidado com medicamentos usados para tratar dermatites na região das fraldas. Como a área é úmida, a absorção de remédios também é maior. Se você usar errado ou sem prescrição médica, pode causar intoxicação.
5. OS EXCESSOS NA HIGIENE DIÁRIA
Você já deve ter se perguntado: quantos banhos por dia posso dar no meu filho? Não existe uma recomendação formal, mas três é um número razoável em dias quentes. Não é preciso lavar a cabeça dele todas as vezes; use o bom senso. Se vivem em regiões quentes, a melhor pedida é a água em temperatura ambiente, e não a gelada.
Não abuse de sabonetes e xampus. Só compre produtos específicos para crianças, com o mínimo de perfume e corante – de preferência os neutros, que dificilmente causam algum tipo de reação alérgica. Condicionador, hidratante e óleo corporal não precisam constar na sua lista de compras, a não ser que o médico recomende. Fuja do talco, que pode causar problemas respiratórios. A limpeza correta vai ajudar a cuidar da irritação com as fraldas. Assaduras são mais comuns no verão. Para evitá-las, seque bem o bebê e todas as dobrinhas depois do banho. O mesmo vale para lenços umedecidos.
O calor intenso pode provocar dermatite seborréica, como é conhecida a caspa no couro cabeludo nos primeiros seis meses de vida. O motivo seria uma superatividade das glândulas que produzem a secreção. Não dá para evitar, mas você pode tomar alguns cuidados. Meia hora antes do banho, massageie o couro cabeludo com óleo hidratante. Depois do banho, passe uma escova com cerdas macias para retirar as sobras. Se a espessura da caspa for grossa, converse com o médico. Ele poderá indicar um creme específico para tratar os casos mais graves.
Cuidados com a pele das crianças albinas no verão
Crianças albinas precisam de cuidados especiais por não ter melanina, substância protetora natural da pele e que dá cor a ela. Além da reposição do bloqueador solar durante todo o dia, o médico recomenda o uso de óculos escuros por conta da fotofobia, a intolerância a luz. O albinismo é genético. Eles não podem se expor ao sol forte, porque o resultado não será bronzeamento, mas sim queimaduras. Uma solução para o verão é inverter o horário da brincadeira: que tal montar uma piscina à noite? Ninguém vai ficar fora dessa.
fonte:Revista Crescer